Desde o final do mês de março, professoras voluntárias da ACMB - Associação Cultural Mônica Bonotto - estão dando aulas remotas a usuários do CAPS - Centro de Atendimento Psicosocial de Lagoa Vermelha. Atendendo um pedido da coordenadora do CAPS, a assistente social Paula Castilhos, professoras voluntárias da ACMB mobilizaram-se para contribuir neste trabalho tendo a educação como um agente de promotor do processo de inclusão social. 

Os usuários da CAPS irão prestar provas do ENCCEJA (Exame Nacional para Certificação de Competências de Jovens e Adultos) no final de abril. Entre os dois estudantes, um busca a certificação do Ensino Médio e o outro do Ensino Fundamental. Atender diretamente ao ensino regular não é objetivo da ACMB, porém, a proposta da ACMB é trabalhar com os alunos para incentivar o estudo e promover o hábito da escrita, da leitura e ajudar a desenvolver habilidades para a compreensão de textos.

Inicialmente, os alunos tiveram encontros onde todos puderam se apresentar e, imediatamente, já iniciaram encontros com exercícios de leitura e escrita possibilitados pela professora Melissa Bonotto, doutoranda em sociologia no Centro da UNESCO de Pesquisas da Criança e da Família na Irlanda. Em seguida, os alunos começaram a ser conduzidos pela professora doutora Silvana Rodrigues Sato, professora titular da Universidade Militar de Santa Catarina e pela professora mestre Dione Gollo, professora de Línguas e Literatura. Os encontros acontecem semanalmente, sendo que os usuários deslocam-se até a sede do CAPS para utlização do computador e  virtualmente encontram as professoras pelo Google Meet. As aulas são virtuais pelo momento da pandemia, e também, pela modalidade da ACMB que conta com voluntários que residem fora de Lagoa Vermelha.

Para Melissa Bonotto, atual presidente da ACMB, “a educação é um processo de empoderamento social e proporcionar a re-aproximação destes usuários com o estudo é um processo que beneficia não apenas habilidades cognitivas, mas também sociais e emocionais em cidadãos que estão buscando uma nova chance na comunidade que vivem”. Para a profa Silvana, “a transição que a educação proporciona para estes alunos, tanto de alcance de objetivos quanto de abertura de novos horizontes é incrível e eu estou muito feliz de poder participar deste processo”. 

Profa Dione Gollo, com vasta experiência em sala de aula e, também, em cursos profissionalizantes, destaca que: “cada ser humano é único em suas necessidades e visão de mundo,  por isso o processo de ensino e aprendizagem nunca se repete ou se iguala a qualquer outro já experienciado pelo professor. Existem complexidades e dificuldades maiores quando se trata de inserir quem já esteve em condição de exclusão social.  Assumir essa  tarefa voluntária  de ensinar jovens ex-usuários de drogas é,  para mim, um grande desafio de fazer a diferença na vida da pessoa, oferecendo a possibilidade de melhorar o  discernimento de suas escolhas individuais, de mudança de pensamento e de construção de algum conhecimento. Assim sendo, tornar possível a bem-sucedida reinserção pessoal e profissional na sociedade”.

Neste contexto, fica evidente o objetivo do CAPS de promover além do cuidado com a saúde, apoio multiprofissional, visando a inclusão, a socialização e a autonomia dos usuários acompanhados. Todos os usuários acompanhados possuem um Plano Terapêutico Singular que traça metas e estratégias de cuidado, Neste instrumento, constam ações de responsabilidade do usuário, de sua família e da equipe multiprofissional, inclusive ações educacionais.

Analisando esta ação educacional com a ACMB, os profissionais do CAPS afirmam estar vivenciando diariamente os benefícios do acesso ao estudo e à leitura, percebendo que os benefícios vão além do aspecto educacional. “Percebemos que estes indivíduos estão se re-descobrindo enquanto seres humanos capazes, estão resignificando limitações que acreditavam possuir. Ver pessoas muitas vezes estigmatizadas pela sociedade, traçando planos, metas e ampliando possibilidades em suas vidas é algo que nos motiva a seguir nosso trabalho” afirma a assistente social Paula Castilhos, coordenadora do CAPS.

O enganjamento multiprofissional no atendimento do usuário, agregando valor ao trabalho prestado pela equipe, mostra-se muito positivo para a superação da dependência, observaram os profissionais da área de psicologia involvidos neste projeto, Elias Vidal Ferreira e Camila Toson (estagiária).

 O empoderamento causado pelas aulas é visível na percepção dos alunos também. Um dos estudantes, afirmou: “sabe que gostei de estudar, não achei que eu conseguia aprender, quero terminar o ensino fundamental para arrumar um trabalho, tenho dois filhos pra ajudar a criar”. Enquanto a outra salientou: “vou realizar o sonho da minha mãezinha, de ter uma filha formada”.

Finalmente, Paula destaca: “Caps é educação, Caps é saúde, CAPS é inclusão, CAPS é qualidade de vida, CAPS é respeito ao individuo, Caps é cidadania. Ao acompanhar o trabalho destes usuários, estamos presenciando os benefícios da educação e da leitura na vida diária e as consequências positivas em seus tratamentos”.

Com a mudança das provas do ENCCEJA inicialmente previstas para final de abril, agora com data para o final de agosto, a ACMB procura voluntários que possam atender as demais matérias das provas. Em conversa com a secretária de educação profa Aline Fasoli, o projeto conseguiu a parceria da profa Flávia que ajudará os alunos com matemática. Assim, fica aberto o convite para a comunidade em geral se professores das áreas de história, geografia, ciências e biologia quiserem se juntar ao projeto como voluntários (dedicação de uma ou duas horas por semana), que por gentileza contatem a ACMB pelo e-mail [email protected].