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O Exército sempre atuou na política

Miguel Debiasi

A geopolítica da América Latina tem sido nestes últimos anos objeto de estudos dos intelectuais. Livros e artigos multiplicam-se sobre este assunto. Na visão dos intelectuais a América Latina está sob domínio político dos Estados Unidos, da maior potência econômica do mundo. O domínio passa pelo mercado, economia, poderes públicos, organismos militares, meios de comunicação, acordos bilaterais e outros espaços. Esta situação tem levado a ideologização das relações, poderes e da cultura em geral. Isto é algo muito evidente na política e instituições militares brasileiras.

O conceito de geopolítica é muito amplo. Para o teólogo belga José Comblin a geopolítica está ligada a muitos fatores, como: à ideologia de segurança nacional; aos nacionalismos tanto da esquerda e como da direita; ao mercado e até desinteressada de qualquer projeto político. Em geral o domínio geopolítico da América Latina está ligado a Doutrina de Segurança Nacional que dá um fundamento científico ou pseudocientífico ao conceito de nação e de bipolaridade. Os geopolíticos e os teóricos da Doutrina de Segurança Nacional e os militares brasileiros atêm-se firmemente à bipolaridade. No Brasil, a geopolítica serve de instrumento para a bipolaridade: adesão à luta anticomunista no interior da Segurança Nacional.

A professora estadunidense Ana Esther Ceceña escreve que a geopolítica está ligada a disputa e controle de território das Américas, entre os Estados Unidos e os países europeus. Essa disputa dos Estados Unidos pelo controle do território das Américas iniciou em 1823 pelo presidente James Monroe, ao comunicar ao Congresso: o continente americano, devido às condições da liberdade e independência que conquistou e mantém, não pode mais ser considerado como terreno de uma futura colonização por parte de nenhuma das potencias europeias. Estamos obrigados a considerar todo intento de estender seu sistema a qualquer nação deste hemisfério, como perigo para nossa paz e segurança, como a manifestação de uma disposição hostil ao Estados Unidos. Nisso inicia a política dos Estados Unidos em transformar o território da América Latina em seu domínio, sua colônia, até nossos dias.

Essa disputa pelo controle dos países do hemisfério Sul foi fundamental para colocar o Estados Unidos em gigante mundial. O controle do território, riquezas naturais, petróleo, gás, jazidas de minerais metálico-ferro, mão-de-obra, construções, infraestruturas, agronegócio, indústria de veículos, caminhões, borracha e todo um conjunto industrial transformou os Estados Unidos no império capitalista. Nessa disputa os países da América Latina subestimaram o significado da concorrência europeia e hoje encontram-se geograficamente na área de controle do capitalismo norte-americano e sem páreo internacional.

A América Latina do século XXI está na encruzilhada, de buscar sua independência política ou reforçar o imperialismo dos Estados Unidos. No momento a América Latina é um alvo geopolítico dos Estados Unidos que derrota as lutas revolucionárias e democráticas, fortalece a dependência nacional e geográfica, garante mão-de-obra barata, controla importantes setores de produção, economia, comunicação e outros. Para sua independência a América Latina precisa redefinir estratégias políticas, econômicas, culturais e sociais do hemisfério sul. Desse ponto de vista, será preciso uma Aliança entre todos os países para o desenvolvimento do continente; um pacto federativo do Sul pela busca de controle dos sistemas produtivos em todos os setores da produção, da tecnologia, da ecologia, dos saberes e da maior articulação dos poderes nacionais, enfrentando as forças reacionárias instaladas no interior de cada país; e de nacionalismos latinos soberanos e articulados pelo desenvolvimento do continente.

O Exército brasileiro sempre atuou pela submissão geopolítica através da: Doutrina de Segurança Nacional; projeção de autoridades políticas militares; controle sociocultural do território; articulação das hegemonias reacionárias; apoio ao mercado internacional; prevenção de qualquer agressão aos Estados Unidos ou seus aliados; difusão da comunicação do imperialismo; combate as lutas populares e aos movimentos democráticos; perseguição aos líderes sindicais, estudantis, campesinos e intelectuais; repressão dos movimentos sociais, estudantil, operário e outros.

O Exército brasileiro atua na política interna e externa do país. Obviamente, executa a política de controle do continente latino-americano. Esta atuação é muito facilitada por ser América um continente-ilha, isso lhe outorga características especiais de fácil controle geopolítico por ações governamentais e militares. No momento, o Exército brasileiro atua como um centurião do governo federal, na função de garantir a implementação de sua política de submissão da nação brasileira aos interesses do gigante mundial do capitalismo, os Estados Unidos. A não punição do ex-ministro da saúde, general Eduardo Pazuello por ter participado do ato político em prol de Jair Bolsonaro não feriu nem o regimento do Exército e nem seu comando militar, apenas praticou a política do atual presidente da República. Seria muita ingenuidade acreditar que os mais de onze mil militares nomeados pelo Jair Bolsonaro para serviço de seu governo não estariam fazendo política. A política é a alma do Exército. Infelizmente, uma política antirrevolucionária e antidemocrática.    

 

Sobre o autor

Miguel Debiasi

Frade da Província dos Capuchinhos do Rio Grande do Sul. Mestre em Filosofia (Universidade do Vale dos Sinos – São Leopoldo/RS). Mestre em Teologia (Pontifícia Universidade Católica do RS - PUC/RS). Doutor em Teologia (Faculdades EST – São Leopoldo/RS).

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