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Calma... deixa-me ver tua alma!

Vanildo Luiz Zugno

A atual pandemia do covid19 é um momento de dor e sofrimento para toda a humanidade. Principalmente para os países, cidades, comunidades, famílias e pessoas atingidas. Para os que morrem e para os que ficam chorando seus mortos.

É ocasião para a solidariedade e compaixão que, devido às características de transmissão do coronavírus, tem sua melhor expressão no isolamento social. Quanto menos contato físico com as pessoas, mais as estamos ajudando!

É uma pandemia que nos obriga à solidão, ao silêncio e à reflexão. Hábitos esquecidos e até desprezados na sociedade da hiperconexão e da interação. Da dificuldade de introspecção de uma cultura voltada para a autoimagem projetada, nascem dois sentimentos aparentemente opostos: a agressão e a depressão.

Nas redes sociais vemos amigos e amigas virtuais expressar a incapacidade de estar consigo mesmos através da agressão a toda e qualquer pessoa que sente, pensa e comunica diferente do que eles gostariam. É a tentação da alma vazia, do espírito incapaz de encontrar-se consigo mesmo, do medo de se olhar no espelho interior e se deparar com o horror vacui da própria existência. Vazio que se projeta agressivamente sobre os outros tentando destruir neles o que não quer apagar de si mesmo.

Por outro lado está a tentação de preencher o vazio de sentido da existência através do consumo de coisas desnecessárias. Horas e horas de shopping, de cinema, de teatro, de restaurantes, de séries televisivas, novelas, viagens e tantas outras coisas mais, com a única finalidade de empanturrar o interior de bens. É o acumulador típico do mercado capitalista. Ele morre sufocado pelos objetos dos quais não necessita. Agora que a pandemia do covid19 o impede de consumir, padece o delirium tremens do consumismo e corre o risco da implosão depressiva.

A covid19 é uma doença física grave. Não é uma gripezinha qualquer. Ela mata. Mais de 15 mil pessoas já perderam a vida. Infelizmente, muitas outras a perderão. A humanidade demorará anos, talvez décadas, para refazer-se.

Mas a covi19 também revela uma doença da alma. De uma humanidade que coloca a economia acima da vida das pessoas e da vida dos outros seres que habitam o mesmo sistema Terra.

É importante que se faça tudo o que é possível para impedir o avanço da pandemia. É importante que se descubra logo um tratamento para os já infectados. Todos os esforços devem ser envidados nesta direção e sem tergiversação e atitudes diversionistas, seja por parte dos cidadãos como dos governantes.

Mas é importante que saiamos desta pandemia com uma alma nova, com a capacidade de olhar para dentro de nós mesmos e percebermos que não podemos transformar nossas vidas, a vida da humanidade e do Planeta Terra em uma sepultura onde jazem os restos das pessoas que amamos.

Para os que creem na Ressurreição, não há quarto dia. Lázaro está vivo e pode, sim, sair do túmulo e iniciar uma vida nova. E todos nós somos, nesta pandemia da covid19, novos Lázaros necessitando sair do túmulo da alma vazia.

Sobre o autor

Vanildo Luiz Zugno

Frade Menor Capuchinho na Província do Rio Grande do Sul. Graduado em Filosofia (UCPEL - Pelotas), Mestre (Université Catholique de Lyon) e Doutor em Teologia (Faculdades EST - São Leopoldo). Professor na ESTEF - Escola Superior de Teologia e Espiritualidade Franciscana (Porto Alegre)."

 

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