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A verdade na caridade contrapõe-se ao deboche político

Miguel Debiasi

 

O Sumo Pontífice Bento XVI em sua Encíclica Caritas in veritate ou caridade na verdade, publicada em 2009, oferece uma profunda reflexão teológica em vista do crescimento da humanidade e da transformação da sociedade. A reflexão tem como ponto de partida o mistério da Santíssima Trindade que chama a humanidade, desde a criação e até o fim dos tempos a prática da caridade na verdade. Em todos os tempos e contextos, a comunidade cristã está desafiada a viver o amor de Deus que transforma e regenera a humanidade.

O papa Bento XVI escreve que “o amor – caritas é uma força extraordinária, que impele as pessoas a comprometer-se, com coragem e generosidade, no campo da justiça e da paz”. Esta força tem origem em Deus, Amor eterno e Verdade absoluta. Aderindo ao projeto de Deus o ser humano encontra o sentido do amor caridoso e por ele supera as escravidões e os pecados (João 8,22). Com efeito, o caminho a ser percorrido pelos cristãos é delineado pela caridade que praticou Jesus Cristo, amar a Deus e ao próximo (Mateus 22,36-40). Da mesma maneira, quando toda humanidade agir em plena comunhão em Cristo pode rejubilar-se na verdade (1Coríntios 13,6). Assim, pode-se entender a caridade na verdade é a mestra de todo ensinamento social, moral e teológico da Igreja.

A caridade na verdade é a virtude pela qual o cristão estabelece as relações com Deus e com a humanidade. São João ensina que Deus é caridade (1João 4,8.16).  São Paulo, escreve aos primeiros cristãos que só há uma direção veritas in caritate (Efésios 4,15). A caridade na verdade abre a inteligência, as mentes, os corações e conforma a vida humana no Espírito de Deus (Romanos 5,5). Assim, a fé cristã se fortalece para caritas in veritate in re social, para a missão do Evangelho de Cristo. Por conseguinte, o cristão sem a caridade na verdade, tornar-se invólucro vazio, adultera o sentido do projeto de Deus. A caridade na verdade tem uma força operativa a orientar toda ação religiosa e moral no mundo, ao menos para o cristão.

Frente a uma humanidade desassistida da pandemia da Covid-19, a caridade na verdade convoca aos cristãos a lutarem pela vida em abundância das pessoas (João 10,10). A Igreja entende que a luta pela justiça e pelo bem comum é inerente a caridade na verdade. Seguramente, o amor caridoso de Deus pelos seres humanos é uma resposta ao grito de seus filhos e filhas submetidos a grandes tribulações e dificuldades. Em contexto de profundo sofrimento humano, é preciso da parte dos cristãos uma grande consideração pela prática da caridade, por ela representa-se do empenho de Deus por um mundo mais justo. Pois, viver segundo os desígnios de Deus leva a responsabilidade religiosa e social frente a comunidade humana e o mundo.  Por conseguinte, destaca-se das inúmeras ações sociais que a Igreja Católica tem realizado no mundo, sobretudo nestes tempos de pandemia, são diversas iniciativas que atendem as pessoas que mais precisam, tais como: a doação de respiradores e equipamentos de saúde, a criação de fundos de solidariedade, a distribuição de alimentos, a doação de de kits para testes, e tantos outros atos que demonstram a caridade cristã.

É da vocação cristã um empenho religioso e social para o crescimento de toda humanidade à luz do projeto de Deus. A utopia pela transformação social e política da sociedade é inerente a vocação cristã. Em razão disto, a caridade cristã é verdadeira quando atua na realidade social, humana e política que se encontram as pessoas. O cenário em que vive, segundo o IBGE, no primeiro semestre do ano de 2020 o rendimento médio da classe trabalhadora caiu 18%, arrastando 12 milhões de brasileiros para a situação de empobrecimento e de abandono social. Na Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad), no primeiro semestre do ano, todos os trabalhadores ficaram com um rendimento abaixo da média habitual. Conforme pesquisa do IBGE, até final de junho apenas até 38,7% dos trabalhadores informais tinham recebido o auxílio emergencial do governo.

Para o cientista social Fausto Augusto Júnior, diretor do Dieese, o auxílio emergencial precisa ser estendido para outras categorias de trabalhadores, aos próprios salariados que recebem o salário mínimo nacional. Bem como, as mulheres deveriam ser incluídas no auxílio emergencial para o custeio dos gastos domésticos elevados pela quarentena. No entanto, o presidente da república debocha da situação dos desempregados: “diz que lançar o programa minha primeira empresa; têm muitos privilégios e reclamam que não tem emprego”. Enfim, na ausência de políticas públicas condizentes ao enfrentamento da situação do desemprego, cabe a caridade cristã a defesa da vida humana, sobretudo, dos empobrecidos, infectados e abandonados.        

 

Sobre o autor

Miguel Debiasi

Frade da Província dos Capuchinhos do Rio Grande do Sul. Mestre em Filosofia (Universidade do Vale dos Sinos – São Leopoldo/RS). Mestre em Teologia (Pontifícia Universidade Católica do RS - PUC/RS). Doutor em Teologia (Faculdades EST – São Leopoldo/RS).

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