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A experiência religiosa de Deus

Miguel Debiasi

As relações entre Deus e o ser humano são tensas. Tensas não no sentido negativo, angustiado, mas exigentes e profundas. Deus e o ser humano exigem uma relação de verdadeira compreensão. Na compreensão acontece uma relação de êxodo do ser humano para a justiça, o crescimento, a felicidade. Nesta relação com o divino, a pessoa nunca se completa por inteiro, pois no dia de amanhã algo mais é complementado.

Em Deus não existe uma forma única de experiência de ser humano ou um único seguimento. Menos ainda uma única experiência de fé e de comunidade cristã. Em Deus todos crescem espiritualmente de forma diferenciada. Entre as pessoas os motivos de acreditar em Deus surgiram de diferentes realidades e circunstâncias. Talvez a razão essencial de aceitar a relação com Deus seja porque toda pessoa pretende encontrar-se com sua própria natureza, a espiritual. Portanto, há algo de natural no ser humano se permitir a relação com Deus. No caso dos cristãos, aceitar Deus é alcançar a compreensão do sentido da vida pelo comprometimento com o outro.

Embora em outras experiências religiosas de livre escolha, fundamentadas em juízos subjetivos, seja possível alcançar um mais profundo conhecimento do verdadeiro de Deus, nas livres escolhas corre-se os perigos de substituir conhecimentos e práticas históricas de fé à luz da revelação de Deus dada ao seu povo eleito. Em alguns casos as livres experiências religiosas demonstram uma profunda ignorância quanto à ação divina na história humana. As livres motivações em muito diferem da experiência e da doutrina do cristianismo consolidado pelas igrejas cristãs históricas. As igrejas cristãs mantêm os pontos essenciais da fé, como acreditar na Santíssima Trindade, e que a salvação humana se realiza pela condição de crer e participar com as obras do Reino de Deus no cotidiano da vida.

Em sistemas religiosos plurais da sociedade contemporânea surgem interrogações a partir de resultados negativos em que pessoas são levadas a confusões mentais, psíquicas, religiosas, emocionais, etc. Os distúrbios religiosos são produtos de má orientação por falta de conhecimento da natureza e da ação de Deus na história da humanidade. Em vista de combater estes distúrbios religiosos e da má compreensão de Deus, as comunidades cristãs tradicionais procuram manter uma perspectiva de evangelização com base no profundo conhecimento de Deus e na experiência comunitária. Fortalecidas por conhecimento teológico e por experiência eclesial comunitária, promovem através de comissões o diálogo ecumênico, inter-religioso e plural; as celebrações intereclesiais e campanhas de solidariedade em conjunto.

A diferença religiosa é uma grande riqueza para bem da humanidade quando a relação com Deus vigora para a justiça e para a felicidade do ser humano. Em defesa deste amadurecimento religioso, John Locke (1632-1704), filósofo inglês, escreveu a Carta Acerca da Tolerância, publicada na Holanda em 1689. A Carta previa que nos cristãos a “mútua tolerância” destacava-se como principal e distintivo argumento da verdadeira igreja. Contudo, para o entendimento mútuo ser eficaz é necessário conhecimento das diferenças. Em vista de todos serem livres, vale muito a boa compreensão de Deus e a experiência comunitária da fé.

Sobre o autor

Miguel Debiasi

Frade da Província dos Capuchinhos do Rio Grande do Sul. Mestre em Filosofia (Universidade do Vale dos Sinos – São Leopoldo/RS). Mestre em Teologia (Pontifícia Universidade Católica do RS - PUC/RS). Doutor em Teologia (Faculdades EST – São Leopoldo/RS).

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