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Subsídios exegéticos para a liturgia dominical Ano a 09 de agosto de 2020

por João Carlos Romanini

19º Domingo do Tempo de Comum

Foto: Divulgação

Evangelho: Mt 14,22-33

Primeira Leitura: 1Rs 19,9a.11-13a.

Segunda Leitura: Rm 9,1-5

Salmo:  Sl 83,9ab-10.11-12.13-14 (R. 8)

 

Evangelho

O Evangelho deste domingo é continuação da multiplicação dos pães, lida domingo passado. Em sua narrativa, Mateus apresenta o êxodo do Messias: o mesmo Deus que libertou o povo do Egito agora age por meio de Jesus, o novo Moisés.

Nos vv. 22-23, Jesus obriga os discípulos a entrarem no barco, enquanto ele próprio se encarrega de dispersar a multidão. Após despachar a multidão, Jesus subiu ao monte, em particular, para rezar. Esta é a primeira vez, em Mateus, que Jesus se afasta para rezar. Ele o fará apenas mais uma vez, no Getsemâni, em 26,36-39.

É necessário perguntar por que Jesus afasta os discípulos da multidão e os envia à sua frente. A resposta parece estar nas expectativas da comunidade mateana: como os primeiros discípulos, os membros daquela comunidade esperavam um grande líder que os levasse a superar as crises. No trecho de hoje, isso está figurado nas forças contrárias ao barco de Pedro: as ondas e o vento. Este barco, sem dúvida, é a Igreja (não só a comunidade de Mateus, mas também a nossa), que é convidada a se afastar do desejo de um messianismo triunfante. Não é à toa que o episódio está inserido logo após a grandiosa multiplicação dos pães: a maravilha operada por Jesus poderia levar o povo a aclamá-lo como aquele esperado líder.

O fato de Jesus obrigar os discípulos a embarcar, ir à sua frente e aguardá-lo na outra margem (v. 22) equivale a um mandato missionário: no barco, os discípulos são uma igreja em saída, que sai do lugar seguro e enfrenta as adversidades da missão. Os discípulos não podem se acomodar no lugar do triunfo, onde as multidões “viram” os sinais de Jesus: a obediência ao Mestre os obriga a assumir sempre novos desafios. Jesus não quer que seus discípulos cedam à tentação de um Messias triunfante, que manipula as massas a ponto de, com elas, formar um exército exasperado e truculento.

Mas Jesus não abandona seus discípulos: no meio da noite, Jesus foi até eles, caminhando sobre o mar (v. 25). Como era de se esperar, este ato de Jesus potencializa o desespero dos discípulos: à dificuldade em navegar em meio à turbulência agora acrescenta-se o terror. Andar sobre as águas era atributo de Deus (Jó 9,8) e, por isso, a visão de Jesus caminhando sobre o mar é interpretada como a aparição de um fantasma.

Àqueles homens apavorados, Jesus dirige uma palavra de confiança: “Coragem! Sou eu!” (v. 27). Jesus utiliza a mesma fórmula com a qual Deus havia se revelado a Moisés, em Ex 3,14: a visão não traz a destruição, mas a esperança e a salvação.

O primeiro a reagir é Pedro: “Senhor, se és tu, manda-me ir ao teu encontro sobre as águas” (v. 28). Normalmente, o pedido de Pedro é interpretado como piedade e submissão. Mas pode haver outra explicação: Pedro cede ao desejo de se igualar a Jesus e partilhar o seu poder.  A tentativa, porém, é frustrada. Pedro percebe que continua sendo o mesmo de sempre: um simples ser humano, repleto de limitações e de medo. Por isso a censura: “Homem de fé pequena, por que duvidaste?”

Em geral, o termo grego oligópistos é traduzido como “homem de pouca fé” ou “homem de fé pequena”. Mas há nele uma nuança pejorativa: homem de fezinha, de fé mesquinha; homem que tem uma fé baseada nos próprios interesses, e não no compromisso. É natural que uma fé deste tipo, na primeira dificuldade, esmoreça. Neste sentido, a fala de Jesus é uma questão retórica que quer fazer Pedro refletir: “Você tem uma fé mesquinha e interesseira. Entendeu por que, diante da dificuldade, você duvidou?”

Relacionando com os outros textos

1ª leitura 1Rs 19,9a.11-13a.

A primeira leitura mostra o Elias perseguido pela rainha Jezabel. Na fuga, ele se abriga numa gruta no monte Horeb. Há um claro paralelo com o evangelho de hoje: após um acontecimento milagroso, o profeta enfrenta perigosa oposição, tal como os discípulos, que foram forçados a navegar para a outra margem.

De fato, a primeira leitura apresenta três fenômenos cósmicos típicos das teofanias: vento, terremoto e fogo. Supreendentemente, porém, o autor de 1Reis apresenta um quarto elemento – a brisa leve – e é nele que o profeta experimenta a presença de Javé. Convém lembrar que Elias foi um grande crítico ao culto a Baal, que era não somente o deus da chuva e da tempestade, mas também o deus da guerra. Ao afirmar que Javé não está no furacão, no terremoto e no fogo, o autor de 1Reis faz uma crítica aos profetas que, em nome de uma missão supostamente recebida da divindade, conduzem o povo à destruição e à morte.

Isso fica reforçado no fato de Elias encontrar força e consolo não nas manifestações violentas da natureza, e sim na brisa suave: somente a paz interior pode trazer esperança e vida para a pessoa e para a sociedade.

 

Subsídio elaborado pelo grupo de biblistas da ESTEF

Dr. Bruno Glaab – Me. Carlos Rodrigo Dutra – Dr. Humberto Maiztegui – Me. Rita de Cácia Ló

Edição: Prof. Dr. Vanildo Luiz Zugno

 

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