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O negacionismo é uma opção política

Miguel Debiasi

A Igreja fiel a Cristo e a missão recebida, em tudo busca ensinamento esclarecido na certeza que a verdade liberta a humanidade (João 8,32). Os questionamentos da Igreja na história ocorreram em busca da verdade. A crítica da Igreja com a modernidade foi na tentativa de discernimento dos avanços e de impedir seu ímpeto de dessacralização da história. A dessacralização é movimento em curso.

A crítica da Igreja com relação a modernidade são tentativas de diálogo para promover os valores da fé na cultura moderna. As tentativas são muitas como: a Igreja Católica da Alemanha do século XVIII, na formação teológica de leigos levando a uma fé mais esclarecida; a teologia liberal do século XIX buscando refletir as questões seculares; o socialismo cristão do século XIX pensando um projeto de sociedade humana; a democracia cristã do século XX pensando na participação política dos cristãos; e a renovação da Igreja, opção do Concílio Vaticano II (1962-1965).  

Por outro lado, a Igreja não podia resistir a modernidade pelo dogmatismo religioso, isto causaria um grande drama aos cristãos contemporâneos. O não reconhecimento da cultura moderna levaria a impossibilidade de inculturação da Palavra de Deus, da atualização dos ensinamentos cristãos e até mesmo da significação dos sacramentos, fontes de graça e salvação para a humanidade inteira. Sabiamente movimentos teológicos-eclesiais como do Concilio Vaticano II reconhece a modernidade como uma nova oportunidade para evangelizar os seres humanos, definida como “a nova primavera” na Igreja. Esta decisão manifesta entendimento que a presença infalível do Espírito de Cristo nunca deixa de operar na história, contudo, a Igreja alerta o ímpeto de dessacralização da cultura moderna. O secularismo é a dessacralização da história humana.

Às razões históricas do avanço do secularismo vão além das filosóficas, sociológicas, racionalistas e iluministas. Se a secularização é um processo de conquistas de liberdade e de afirmação da historicidade humana, o secularismo vê o mundo e as realidades humanas de forma absoluta. No secularismo não a transcendência, a reflexão metafísica, que vai além do mundo material. A inclinação do homem pelo mundo com suas realidades temporais, reduz a vida naquilo que se consume e dão prazer ao ego e a racionalidade. Com efeito, a autorreferência humana apegada exclusivamente as realidades materiais e terrestres dificulta pensar aquilo que vai além da razão e do real, como do infalível mundo da fé. O secularismo ao absolutizar a história temporal rompe a unidade vital entre razão e fé. Essa ruptura na cultura europeia ocidental, levou ao niilismo ou vazio e ao apego as “causas segundas”. O secularismo rejeita a “causa final”, o “fim de tudo”, que para os cristãos é a redenção de toda criação divina (Apocalipse 21,1-3).

O secularismo racionalista concentrou-se nas “causas segundas”, como da explicação das coisas naturais e os fenômenos do universo gerando uma visão mecanicista do mundo, destituída de “finalidade última”. No campo da filosofia não faltaram críticos a esse movimento ainda na era pré-história moderna, com o filósofo e teólogo franciscano Guilherme Ockham (1285-1347), continuo com o pensador italiano Bernardino Telesio (1509-1588), com o filósofo inglês Francis Bacon (1561-1626), com o astrônomo, físico e engenheiro florentino Galileu Galilei (1564-1642), com o físico e matemático francês René Descartes (1596-1650), com o filósofo holandês Baruch Espinoza (1632-1677), com os filósofos prussianos Immanuel Kant (1724-1804) e Friedrich Nietzsche (1844-1900), chegando a outros pensadores contemporâneos. O secularismo aduz o que é da vida não teria outro sentido senão aquilo o que é da vida histórica, material, temporal.

O Coletivo Judeu pela Democracia repudiou as declarações de membros do governo federal de que o nazismo é da esquerda. As declarações não são apenas chocantes por sua ignorância, má-fé, cinismo, mas infames por fazer crescer o antissemitismo e outros discursos de ódio. O presidente da Associação Islâmica de São Paulo, Mohamad El Kadri, afirmou que o mundo vê com espanto a postura extremamente ideologizada do governo brasileiro, rompendo diálogos, relações internacionais e causando danos a política, a religião e a humanidade. O chefe do Estado de Israel, Reuven Rivlin, advertiu que “nunca perdoaremos e nunca esqueceremos, quem desrespeitar as vítimas do Holocausto e tentarem apagar isso da memória”. O Holocausto foi um produto do nazi-fascismo, movimento da extrema-direita europeia, matando cinco milhões de judeus na Alemanha, três milhões na Polônia e um milhão na União Soviética. O Holocausto foi um verdadeiro genocídio de judeus cometido pelos nazistas durante a Segunda Guerra Mundial. Negar este fato histórico ou dar outra versão é ignorância ideológica.

Sabiamente, movimentos, organizações e autoridades políticas e religiosas da comunidade judaica e de outras denominações repudiaram publicamente os ataques ideológicos feitos por membros do alto escalão do governo federal. Bem da verdade, o negacionismo é a opção ideológica política de extrema-direita do governo federal, postura que desligou o país da comunidade internacional.

 

Sobre o autor

Miguel Debiasi

Frade da Província dos Capuchinhos do Rio Grande do Sul. Mestre em Filosofia (Universidade do Vale dos Sinos – São Leopoldo/RS). Mestre em Teologia (Pontifícia Universidade Católica do RS - PUC/RS). Doutor em Teologia (Faculdades EST – São Leopoldo/RS).

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