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A Igreja de Cristo em missão no mundo

Miguel Debiasi

 

A natureza da Igreja é ser missionária. Cristo instituiu sua Igreja e a enviou ao mundo para levar sua Boa Notícia que tem como missão fazer todos os povos seus discípulos (Mateus 28,19). Portanto, para que todos recebam a salvação dom de Deus (Romanos 6). Eis o desafio da Igreja junto à sociedade contemporânea.

Todo batizado é enviado como Igreja de Cristo em missão no mundo. Este é o lema escolhido pelo papa Francisco para comemorar o centenário da Carta Apostólica Maximum illud, de 1919. Naquele ano a humanidade vivia sob a sombra dos destroços da Primeira Guerra Mundial. Em sua Carta Apostólica Maximum illud, o papa Bento XV definiu a situação mundial como “massacre inútil”. Neste terrível contexto de flagelo humano o papa conclamou a humanidade a pensar no sentido da função dos Estados, Nações, e na missão da Igreja de Deus que é universal. A primeira exortação foi dirigida ao mundo, especialmente aos Estados, para que fossem intensificadas as relações de paz, solidariedade e respeito aos direitos humanos e às soberanias nacionais.

A segunda exortação do Papa Bento XV foi impulsionar a Igreja para sua missão universal, definida como missio ad gentes. Isto é, a missão da Igreja existe para todas as nações, com particular impulso numa consciência missionária dos cristãos. A missio ad gentes é a tarefa da Igreja dada por Cristo Jesus: “Ide pelo mundo inteiro e anunciai a Boa Nova a toda criatura” (Mateus 16,15). Para a humanidade atormentada pelo conflito mundial, o pontífice aponta que somente a adesão ao Evangelho do Senhor poderia ressignificar a vida humana e o sentido da política das Nações.

Para o Papa Francisco aquela terrível história mundial e a iniciativa de Bento XV devem ser recordadas para avançar na obrigação de promover a paz dos povos e impulsionar a missão da Igreja. Estritamente à Igreja o papa Francisco escreve: “evangelizar constitui, de fato, a graça e a vocação própria da Igreja, a sua mais profunda identidade. Ela existe para evangelizar” (Evangelii Gaudium. N. 13). O fato acontecido há cem anos que atormenta a consciência, “massacre inútil”, jamais poderá ser revivido. Para o bem da humanidade faz-se necessário levar a peito o espírito da Carta Maximum illud, que propôs caminho político de constante reconciliação entre os Estados e povos. O momento de crise econômica e política mundial atual deverão levar as autoridades ao diálogo mundial e recordar que a humanidade não suportará novos “massacres inúteis”.

Tudo aquilo que recorda fracasso das políticas mundiais expressa um contínuo apelo inadiável, uma opção pela paz mundial ainda que represente máximo desafio às autoridades mundiais. A Igreja, constituída por comunidade seguidora de Cristo, compromete os cristãos a promoverem as obras do Reino de Deus, ir ao mundo propagar o Evangelho. Este é o mandato missionário da Igreja e dos cristãos para o início do século XXI. Uma contraposição a toda manifestação de ódio, conflitos e desigualdade sociais, frutos de um sistema econômico que acumula e concentra poder, riqueza e domínio político e humano.

Neste espírito profético e de ousadia evangélica, o papa Francisco decretou que em outubro seja celebrado o Mês Missionário Extraordinário. Para isto propõe muitas atividades, como renovar e aprofundar o sentido de missio ad gentes entre os cristãos; propagar testemunhos de santos, santas e mártires missionários; vivenciar a missão permanente nas comunidades cristãs; rezar e celebrar a missão diariamente. Para que isto seja vivido o lema inspira: batizados e enviados como Igreja de Cristo em missão pelo mundo. Obviamente, será preciso fazer a experiência do amor fontal do Pai, comunicado em Seu Filho Amado (João 1,14), o Fundador da missão que garante: “Eu estarei convosco todos os dias, até ao fim do mundo” (Mateus 28,20).

Sobre o autor

Miguel Debiasi

Frade da Província dos Capuchinhos do Rio Grande do Sul. Mestre em Filosofia (Universidade do Vale dos Sinos – São Leopoldo/RS). Mestre em Teologia (Pontifícia Universidade Católica do RS - PUC/RS). Doutor em Teologia (Faculdades EST – São Leopoldo/RS).

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