A crise pegou até os Sertanejos
Teve até quem vendeu o jatinho
No final de 2017, uma mensagem deu o que falar em grupos de WhatsApp de empresários e outras pessoas do mercado da música sertaneja. A dupla João Bosco & Vinícius anunciava 20% de desconto em seu cachê.
Não é comum uma dupla conhecida divulgar uma "oferta" de forma pública assim. Mesmo que existam descontos, eles costumam ser negociados de maneira privada com os chamados contratantes (empresários que intermedeiam o contrato entre os artistas e produtores locais).
João Bosco & Vinícius foram pioneiros do sertanejo universitário com "Chora, me liga" em 2009. Não estão no auge, mas têm nome forte até hoje. Por isso o recado geral causou preocupação: Será que o dinheiro do sertanejo está mais curto? Após anos "de ouro", é hora de uma queda em todo o setor?
O G1 conversou com contratantes e empresários de música sertaneja sobre o tema. Todos concordam que a tal mensagem teve impacto no meio e simbolizou um momento de desafio geral - inclusive o empresário da dupla, Luiz Montoya.
Depois da bonança
Eles dizem que nem tudo é um mar de rosas no mercado sertanejo atual. Exceto um grupo pequeno de artistas estourados ("hoje no máximo 10", segundo um grande contratante), outros cantores conhecidos tiveram que readequar o orçamento nos últimos dois anos.
Não é uma crise exclusiva do sertanejo: é o reflexo da economia ruim do país desde 2015, segundo eles. Prefeituras com menos dinheiro, festas tradicionais com menos orçamento, shows com menos público: tudo tem impacto nas duplas e cantores. A soluções são:
- Trocar jatinho por ônibus ou voos comerciais. Com menos grana, "a primeira coisa que corta é jatinho", diz Márcio Costa, um dos maiores contratantes de shows sertanejos no país, de Votuporanga (SP). João Bosco & Vinícius venderam seu jatinho há dois anos. Hoje, só duplas muito em alta, como Maiara e Maraísa, usam.
- Enxugar a equipe. Artistas grandes que levavam em média 50 pessoas na estrada hoje levam em torno de 35, afirma Costa.
- Diminuir cachês. O G1 apurou que João Bosco & Vinícius chegaram a cobrar R$ 150 mil. Hoje fica entre R$ 80 mil a R$ 120 mil. E nem foi a maior queda. "Tem muito artista que tinha cachê de R$ 150 mil, hoje é R$ 50 mil", diz Costa.
- Turnê acústica. Outra solução para diminuir o orçamento é fazer shows acústicos, que devem ser tendência em 2018, diz um grande contratante, que não quis se identificar.
por Luciano Pettorini
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