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Sem despedida, ou melhor: Uma nova forma de se despedir

Neusa Picolli Fante

Como sepultar, dentro de você, um amor sem despedida?

Momento atual, anormal, imprevisto, difícil, triste, estranho, indefinido, desorganizador... dentro do que entendemos por previsível, programado, projetado.

Sabemos que o ritual de despedida é fundamental para que o processo de luto se desenvolva. Entendê-lo ajuda-nos diante da perda de alguém amado. 

Partida sem abraço, enterro sem amigos, presença ausente, sem toque. É distância que se confirma, é solidão imposta. É o espaço de um adeus não reconhecido, não ensaiado, que deixa um desamparo inalcançável.

Emoções sem nome... momento cheio de lembranças.

Um rito que clama por entendimento e por ressignificação.

O olhar que liga, o afeto que aproxima e mostra a importância de estar ali, da maneira que for possível - assim estão sendo as nossas despedidas, fazendo emergir, fluir dos olhos, tudo que precisa ser dito, tocado, orquestrado. 

Precisamos construir endereços... precisamos construir despedidas, nem que seja de maneira simbólica, para aquilo que ainda não conseguimos sepultar direito. Para o que permanece entreaberto  em nosso íntimo, esperando algo ainda não concretizado.

Alento, amparo, acolhida que se constroem com coisas simples: fotos, imagens, lembranças compartilhadas. São as distâncias amarradas que nos remetem ao novo ritual, à partida do momento, ao abraço que não pode existir, ao amigo que de longe se expressa. É o bilhete enviado com a emoção sentida, o afeto transmitido on-line no mundo virtual, numa nova conexão.

Novas formas de se despedir tomam forma... despedidas personalizadas necessitam ser criadas. Reinscrever as despedidas, dentro da realidade que estamos vivendo, semeando o que desejamos transmitir, nos recria e revela a essência de que precisamos… o amor... a busca pelo sentido… assim podemos acomodarmo-nos dentro de nós e acolher nossas próprias angústias.

Pode ser feito quantas vezes for necessário, e da maneira que cada um julgar melhor. O novo ritual pode ser o vínculo que transcende e nos possibilita sepultar nossos amores no melhor lugar dentro de nós.

Sobre o autor

Neusa Picolli Fante

Psicóloga Clínica e Especialista em Teoria, Pesquisa e Intervenção em Luto. Graduada em Comunicação Social.  Autora do livro Caminho dos Girassóis: Uma abordagem sobre o luto, Dor sem Escuta, Entrelinhas da Vida, Quintais da Minha alma.

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