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O trabalho que provoca desconforto

Miguel Debiasi

A 57ª Assembleia Geral da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), realizada na primeira quinzena de maio em Aparecida (SP), elegeu as novas Diretrizes Gerais da Ação Evangelizadora para os próximos quatro anos e também a nova coordenação. A forma como a mídia divulgou as decisões da Assembleia Geral da CNBB obriga a uma pergunta: O que é mais importante para a Igreja Católica, as diretrizes ou a coordenação da CNBB? Eis um debate a ser realizado no atual contexto que vive o Brasil.

Ao propor debate da questão inicia-se por relatar a forma como alguns canais de televisão do centro do país noticiaram o fato da eleição da nova coordenação: “contrariando toda previsão Dom Walmor Oliveira de Azevedo, arcebispo metropolitano de Belo Horizonte (MG), é eleito como o novo presidente da CNBB pelos próximos quatro anos, mantendo a linha progressista e freando o avanço dos bispos conservadores”. Contudo, a notícia mais veiculada da mídia foi a eleição do secretário-geral da CNBB, por ser o cargo deliberativo da instituição. Cabe ao secretário-geral: agilizar a agenda e a pauta da instituição, cuidar das relações institucionais da Igreja com a sociedade, com os organismos não governamentais, articulação das lideranças, pastorais, movimentos e comissões constituídas no âmbito interno da CNBB.

No entanto, cabe observar como a mídia noticiou o fato da eleição do secretário-geral: “a eleição de Dom Joel Portella, bispo auxiliar do Rio de Janeiro, de viés político conservador, não foi bem recebida pelos bispos progressistas”. Contudo, a notícia merece explicação. Dom Joel Portella é bispo auxiliar de Dom Orani João Tempesta, Arcebispo do Rio de Janeiro, considerado uma das vozes mais conservadoras da Igreja e de pífia influência no campo político. Ao secretário-geral cabe apenas executar o plano aprovado pela CNBB. Ou seja, determinar o que já foi deliberado pela Assembleia. Logo, sua função é cumprir o estabelecido pela CNBB.

Sem dúvida alguma, a mídia nacional pretendia transformar a eleição da nova coordenação da CNBB num fato político presumindo a divisão da maior instituição religiosa do país. A CNBB não foi criada para manter uma uniformidade no pensar e nas ações dos bispos e nas dioceses ou da Igreja Particular. Foi criada para animar a criatividade e a fidelidade dos bispos ao Evangelho de Cristo. As Diretrizes Gerais são eleitas após um amplo estudo e debate com participação de todas as dioceses do Brasil, bem como das comissões da entidade. É preciso dizer que as Diretrizes eleitas incidem diretamente na sociedade e no povo brasileiro e isso incomoda os setores conservadores, os grupos econômicos, o governo.

 

O incômodo com o trabalho da Igreja Católica é tão real que em fevereiro veio a público a ação da Agência Brasileira de Inteligência (Abin), que estaria investigando os bispos da CNBB, lideranças das entidades católicas, pastorais da Terra e Carcerária e o Conselho Indigenista Missionário (CIMI). Outra prova do incômodo vem do Presidente da República Jair Bolsonaro, que tachou o papa Francisco de “comunista”. O trabalho da Igreja Católica incomoda muita gente do Brasil, sobretudo pessoas do primeiro escalão do governo federal adeptas à igreja evangélica e pentecostal. Mas, as razões do desconforto são outras. Uma é a organização do Sínodo Sobre a Amazônia que será realizado em Roma, Itália, entre os dias 6 e 27 de outubro deste ano, reunindo bispos de todo o mundo. As autoridades e os grupos econômicos do país preocupam-se com o Sínodo porque levará ao conhecimento do mundo como o governo brasileiro trata as questões ambientais, como o controle do desmatamento e da biodiversidade, os indígenas e minorias.

 

O trabalho da Igreja Católica incomoda ao ponto do governo, através do Gabinete de Segurança Institucional (GSI), estar preocupado que o debate aborde parte da agenda da esquerda e critique o governo. O general Augusto Heleno, do GSI, afirmou que o governo vai a fundo para neutralizar impactos do encontro que interfiram em assuntos internos do país. Por isso, desejam tratar a eleição da CNBB como se fosse a vitória dos conservadores. Na realidade falseiam a verdade sobre a caminhada da Igreja. Por outro lado, ignoram que a Igreja vive da fidelidade à Palavra de Jesus Cristo: “Pois eu estava fome, e destes-me de comer; eu estava com sede, e destes-me de beber; eu era estrangeiro, e me receberam em sua casa; eu estava sem roupas, e me vestistes; seu estava doente, e cuidaram de mim; eu estava na prisão, e foram me visitar." (Mateus 25,35-36).

Sobre o autor

Miguel Debiasi

Frade da Província dos Capuchinhos do Rio Grande do Sul. Mestre em Filosofia (Universidade do Vale dos Sinos – São Leopoldo/RS). Mestre em Teologia (Pontifícia Universidade Católica do RS - PUC/RS). Doutor em Teologia (Faculdades EST – São Leopoldo/RS).

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