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O lucro como gerador de repressão

Miguel Debiasi

 

Dominar a natureza e a história da civilização é da vontade humana. A dominação é uma necessidade humana. O progresso técnico abre caminho para a dominação em maior escala. Quanto maior o poder de dominação, maior é a emancipação humana. Quanto maior a fortuna, maior é a emancipação individual e o poder de dominação humana. Essa é a ideia dos bilionários, os grandes repressores da civilização empobrecida.

O filósofo e sociólogo alemão Marx Horkheimer (1895-1973) afirma que o “fascismo é a verdade da sociedade moderna”. E acrescenta que “quem não quer falar do capitalismo deve calar também sobre o fascismo”. O fascismo está dentro das leis do capitalismo: por detrás da “pura lei econômica” – que é a lei do mercado e do lucro – está a “pura lei do poder”. Segundo Horkheimer a ideologia fascista mascara, a velha ideologia da harmonia, a própria realidade: o poder de uma minoria com base na posse dos instrumentos materiais de produção. A tendência ao lucro acaba no que sempre foi: ao domínio pelo poder político e social.

Horkheimer descreve as etapas do desenvolvimento do capitalismo liberal clássico – baseado na concorrência de mercado, até o capitalismo monopolista – que destrói a economia de mercado e progride, se avoluma e vive de modo totalitário. A vontade de dominar cresce simultaneamente com o desenvolvimento do capitalismo que produz a terrível expansão da máquina burocrática em todos os setores da vida. O sistema que iniciou o seu caminho como progressista, em 1789 com a Revolução Francesa, acompanhada da revolução industrial e tecnológica, portava consigo as tendências do fascismo. Há um intercâmbio entre capitalismo e fascismo, juntos constroem um absurdo de um sistema totalitário, repressor das massas populares.

No horizonte do homem capitalista está o lucro e constitui as pessoas objetos de administração de um controle político e social. O lucro por um lado e o controle do plano por outro geraram repressão política e social sempre em maior escala. Em sua crítica intitulada Eclipse da razão, Horkheimer examina o conceito de racionalidade que está na base da moderna cultura industrial e procura conectá-lo a realidade vivida pelas pessoas. A lógica do lucro e do controle político social transforma-se em nova barbárie que submete as pessoas ao triunfo da civilização industrial e tecnológica. O progresso dos recursos tecnológicos e industriais diminui na produção de bens e abre caminhos para os trabalhadores renunciar-se a si mesmos como sujeitos políticos e sociais. Neste sistema econômico os indivíduos vão lutar apenas pela sua sobrevivência e quem decide sobre o bem e o mal é o lucro. Para Horkheimer, é o poder, o controle político e social. A razão humana encontra-se subjugada pelo processo do capital, do seu poder, de dominar os homens, a natureza. A dominação tornou-se seu único critério.

O sistema capitalista põe o ser humano na prateleira e o transforma em objeto em que não há razão ou verdade, mas é sim um meio para um fim, o lucro e para outro fim, do controle social. O homem tornou-se um instrumento de exploração total, e a razão industrial e tecnológica não conhece limite de repressão e exploração. Frente a isto, a organização sindical torna-se impotente para os projetos comunitários. A decadência do pensamento coletivo como do sindical favorece aos poderes constituídos, aos representantes do capital, seja pelo controle dos grupos de trabalho ou da mão-de-obra e o lucro. O processo capitalista, por um lado, gerou uma cultura de massa em que vende-se aos homens a incapacidade dos operários e das organizações sindicais. Por outro lado, exige-se produtividade com novas técnicas, utilizada em favor da estrutura do lucro e do controle sociopolítico.

O lucro e o controle sociopolítico é a ideia do homem, do capital. Isto é, a sua humanidade, a sua emancipação, seu poder de desenvolver sistemas do qual a razão não sabe mais nada além de atingir seus fins, o progresso dos recursos técnicos, sinônimos de lucro e controle social. Essa é a realidade, os bilionários saíram ilesos e mais forte da pandemia como aponta o relatório da ONG Oxfam internacional e da ONU e dados da Forbes e do Credit Suisse. Em escala global, bilionários aumentaram suas fortunas em 3,9 trilhões de dólares de 18 de março a 31 de dezembro de 2020. Numa simples comparação com a pandemia da Covid-19, os bilionários são o Vírus da

Sobre o autor

Miguel Debiasi

Frade da Província dos Capuchinhos do Rio Grande do Sul. Mestre em Filosofia (Universidade do Vale dos Sinos – São Leopoldo/RS). Mestre em Teologia (Pontifícia Universidade Católica do RS - PUC/RS). Doutor em Teologia (Faculdades EST – São Leopoldo/RS).

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