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A ressurreição: a esperança da vida humana

Miguel Debiasi

Os cristãos se confrontaram continuamente com as questões existenciais e celestiais. A partir da fé em Cristo os cristãos se colocam as perguntas sobre o sentido da vida terrena e a celestial. Os estudos teológicos sobre a vida e a morte não tem chegado a todas as realidades humanas, nessa situação o crente não decidirá como sujeito consciente e com capacidade de amadurecido discernimento. Na falta de conhecimento e discernimento, compromete-se a esperança na ressurreição dos mortos e da vida humana.

A ressurreição dos mortos é o infalível dogma de fé dos cristãos. A ressurreição é uma verdade teológica irrevogável e imprescindível. Para os cristãos a ressurreição é um dom, Deus oferecido gratuitamente a  humanidade. Desde o início da caminhada do Povo de Israel aos nossos dias a fé na ressurreição dos mortos é uma verdade assegurada (2Macabeus 7,14). Jesus comunica a Boa-Notícia da ressurreição a jovem Marta, enlutada pela morte de seu irmão Lazaro: “teu irmão ressuscitará”. E, a encoraja para que creia nessa nova dimensão da vida humana: “Eu sou a ressurreição. Quem crê em mim, ainda que morra, viverá. E quem vive e crê em mim jamais morrerá” (João 11, 25-26). A Boa-Noticia de Jesus foi de sua vitória sobre a morte pela ressurreição dos mortos, como o anjo a comunica as mulheres: “Ele não está mais aqui, pois ressuscitou, conforme havia dito. Vinde ver o lugar onde ele jazia” (Mateus 28,6). Ademais, o anjo comunicou esta verdade não apenas para um restrito grupo de seguidores de Jesus Cristo: “Ide já contar aos discípulos que ele ressuscitou dos mortos, e que ele vos precede na Galileia” (Mateus 28,7).  

A fé ansiosa da discípula Maria Madalena e das outras Marias que vão ao sepulcro de madrugada é atendida pelo próprio Jesus Ressuscitado que vai ao seu encontro e lhe responde: “alegrai-vos” (Mateus 28,9). É ele mesmo o Jesus Ressuscitado que recomenda as mulheres de comunicar esta verdade: “Não temais! Ide anunciar a meus discípulos que se dirijam para a Galileia; lá me verão” (Mateus 28,10). Os onze discípulos caminharam de Jerusalém a montanha da Galileia, indicada por Jesus Ressuscitado: “Ao vê-lo, prostraram-se diante dele” (Mateus 28,17). Ali discípulos e discípulas são enviados ao mundo pelo Cristo Ressuscitado para anunciar essa Boa-Notícia da vida: “Ide e fazei que todas as nações se tornem meus discípulos (...) e ensinando-as a observar tudo quanto vos ordeneis” (Mateus 28,20-21).     

Até o momento da escandalosa condenação e da cruenta crucificação a encarnação do Filho de Deus, de certa forma revelava-se incompleta e para muitos até incompreensível. Com efeito, é a ressurreição que coroa a vida e completa o mistério de Jesus Cristo na terra. Sua Ressurreição dos mortos é a base da fé e da esperança de Cristo em Deus Pai. É ela, a ressurreição dos mortos, que mantém a esperança que a vida humana não termina de maneira inevitável na morte. A esperança na ressurreição dos mortos diz que o ser humano não será destruído por completo ou para sempre, mas ao contrário, haverá de continuar em nova dimensão de vida. Essa esperança motiva a todo ser humano, aqui na terra lutar por algo que se realiza diariamente e pela nova vida que aguardo do futuro.

Os discípulos e as discípulas deixaram famílias e tudo que possuíam e saíram pelo mundo anunciando o Senhor Ressuscitado, levam a maior Boa-Nova da humanidade, da vitória da vida sobre a morte. Aos primeiros seguidores do Mestre a crucificação foi um ato escandaloso e inaceitável. Esta Boa-Notícia não foi recebida como pelos sábios gregos: “A respeito disto vamos ouvir-te outra vez” (Atos dos Apóstolos 17,32). Entre os sábios gregos que ergueram um altar ao deus desconhecido, Paulo apóstolo lhe anuncia o Deus que se encarnou, que foi crucificado, que ressuscitou dos mortos e que enviou os seus para contar esta imensurável notícia a todos os humanos, mesmo que resistam a esta verdade de fé.

Mesmo perseguidas pelas autoridades romanas e pela elite religiosa de Jerusalém, Maria Madalena e as outras Marias, com medo misturado de alegria, elas não ficaram indiferentes e correram para anunciar esta Boa-Notícia da Ressurreição do Senhor. Ainda hoje, essa Boa-Notícia continua sendo anunciada e transmitida pela Igreja e pelos cristãos. A ressurreição dos mortos é uma esperança que conduz os dias de cada seguidor de Jesus Cristo. É uma esperança que transcende a vida terrena, pois, a ressurreição não se refere somente a este mundo e a esta história, mas que realiza o Reino do Céus, o Reino definitivo que Deus oferece a humanidade. O mundo é o lugar de viver essa esperança, a vida eterna é o lugar que realiza plenamente essa esperança.

Na triste situação de mortes de quatro milhões de pessoas causadas pela pandemia, além do atendimento das famílias vitimadas e de denúncia deste flagelo humano, a Igreja pode oferecer com maior convicção a Boa-Notícia da ressureição dos mortos. Obviamente, acentuada que Deus salva homens, mulheres e toda sua obra criada, ainda que o ser humano não corresponda ao seu plano de salvação. Diante do tribunal, Sócrates disse: “uma vida sem exame é indigna de ser um ser humano”. Sabe-se bem, que a ressurreição é uma questão que diz respeito a todo ser humano, ela é a causa da esperança principalmente da pessoa que deseja caminhar no mundo seguindo os passos de Jesus, transformando as situações de morte em vida, liberdade, saúde, compaixão, solidariedade. Assim, a esperança na ressurreição dos mortos não dispensa a caridade neste mundo, uma resposta as questões existenciais e sociais, uma luta por comida, dignidade, cidadania, direitos humanos, justiça social e outros. Nisso tudo para Deus está inscrito o objetivo pelo qual o mundo foi criado, para a evolução da vida e da consciência harmonizada com seu fim, final de tudo, para que exista um futuro de “novos céus e nova terá onde habitará a justiça” (2Pedro 3,13).

Sobre o autor

Miguel Debiasi

Frade da Província dos Capuchinhos do Rio Grande do Sul. Mestre em Filosofia (Universidade do Vale dos Sinos – São Leopoldo/RS). Mestre em Teologia (Pontifícia Universidade Católica do RS - PUC/RS). Doutor em Teologia (Faculdades EST – São Leopoldo/RS).

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