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A responsabilidade do sujeito público

Miguel Debiasi

Na filosofia contemporânea existe uma corrente denominada de personalismo que tem como ideia central a pessoa em sua inviolabilidade, liberdade, criatividade e responsabilidade na história. Na lógica da filosofia personalista, a realidade social é resultado da influências políticas, religiosas, culturais e ideológicas. Logo, as pessoas e grupos sociais são manipuláveis e determinados por forças externas. Libertar-se das influências sociais alienantes é desafio constante para o ser humano.   

A reflexão dos pensadores personalistas foca em cinco pontos: Como ponto de partida, uma posição de independência em relação aos partidos e aos agrupamentos constituídos, faz-se necessária uma avaliação das diversas perspectivas; Como o espírito não é força absurda ou mágica, a simples afirmação dos valores do espírito periga ser enganosa quando não acompanhada de rigorosa delimitação da atividade e dos seus meios; A união estreita entre o espiritual e o material implica em que, em cada questão, deve-se levar em conta toda a problemática; O sentido da liberdade e do real nos impõe que, na investigação, nos libertemos de qualquer a priori doutrinário e que estejamos positivamente abertos para tudo; A cristianização compacta desordem do mundo contemporâneo que levou alguns personalismos a definirem-se revolucionários.

Os pensadores do personalismo eram jovens europeus que defendiam com suas ideias duas correções a sociedade: a social, pela revolução econômica superando a sociedade derrocada pelas crises, do sistema financeiro com a quebra da bolsa de Nova Iorque em 1929; e a correção ético-espiritual, pelo fracasso da doutrina cristã que permitiu duas Guerras Mundiais. Entre os jovens pensadores está o francês Emmanuel Mounier (1905-1950), que escreveu: “a revolução personalista e comunitária é um caminho sem volta, da propriedade capitalista à propriedade humana”. Fiel a sua utopia, acrescenta: “O meu Evangelho me ensina que não somos mais astutos do que o próprio Deus, que sempre procura um caminho para o coração do homem mais desesperado. O meu Evangelho, ademais é o Evangelho dos pobres”. A princípio, parece-nos que personalistas eram críticos da situação e mostravam uma certa fidelidade ao espirito da doutrina cristã.

Em outra publicação Mounier especificava o que vem a ser a pessoa cristã: “Nunca estarei satisfeito com um mal-entendido com todos os que despertam a confiança dos pobres. Isso não é política, sei muito bem. Mas é um pressuposto de toda política e constitui uma razão suficiente para rejeitar certas formas políticas”. O personalismo pretende superar todo problema humano e social inspirado nos ideais de uma política social cristã. Seja qual for o propósito dos personalistas, observa-se que a realidade brasileira como do Produto Interno Bruto (PIB) nacional fechou a década com uma expansão de 2,2%, bem atrás dos 30,5% da economia global. Todos sabem que a crise econômica do país foi instalada e agravada com o golpe parlamentar de 2016 contra a presidente Dilma Rousseff. A política do golpe reduziu os investimentos internos, com isso, diminuiu a renda média da população e o PIB per capita caiu 7,8% no país.

Segundo reportagem da Folha de São Paulo, publicada em janeiro, enquanto a economia encolheu ao longo da década, a população brasileira cresceu 8,7% no período. Fato é, que ampliou-se a desigualdade social apesar dos esforços feitos pelos governos petistas para reduzir a pobreza e a fome do país. Com a pobreza em crescimento e os pobres não tendo poder de compra a queda da economia faz-se sentir em todos os setores. Conforme dados da Federação Nacional da Distribuição de Veículos Automotores (Fenabrave) caiu em 21,6% e o setor dos caminhões registram uma retração de 12,3% nas vendas em 2020. Pior, o fracasso da política do golpe é mensurada em todos os setores da economia do país.

Jair Bolsonaro, um dos políticos comprometido com o golpe parlamentar com discurso misógino e de linguagem de baixo calão com a presidente Dilma, agora envolto em seu próprio fracasso como gestor público diz: “o Brasil está quebrado e eu não posso fazer nada”. Em algo o presidente da república tem razão, “eu não posso fazer nada”, diga-se de uma verdade, a sua participação política no congresso nacional foi uma verdadeira nulidade. Em 28 anos como deputado federal Jair Bolsonaro numa foi citado como um parlamentar influente pelos órgãos de opinião e avaliação pública. Como diz os pensadores personalistas: “todo fracasso é o insucesso da relação com os outros”. Na verdade, para ser um bom agente público é preciso colocar-se a serviço de todos, especialmente dos desfavorecidos. Logicamente, para dedicar-se ao serviço dos desfavorecidos exige-se sabedoria e espírito comunitário, algo pouco manifesto no atual gestor nacional.

Sobre o autor

Miguel Debiasi

Frade da Província dos Capuchinhos do Rio Grande do Sul. Mestre em Filosofia (Universidade do Vale dos Sinos – São Leopoldo/RS). Mestre em Teologia (Pontifícia Universidade Católica do RS - PUC/RS). Doutor em Teologia (Faculdades EST – São Leopoldo/RS).

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