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A economia da graça

Vanildo Luiz Zugno

 

Graça é aquilo recebemos sem dar nada em troca. Em outras palavras, um presente. Ninguém paga por um presente. Se pagamos por ele, deixe de ser presente e passa a ser uma compra, negócio, troca, comércio. E aí perde a graça... Já pensou se, no dia do aniversário, tivéssemos que pagar pelos presentes que recebemos dos familiares e amigos? Ia ficar meio estranho. A festa viraria mercado.

Mais do que pensamos, em nossas relações cotidianas, a graça está presente. Já pensou o quanto recebemos das outras pessoas? Dos pais recebemos a vida e o cuidado na infância, adolescência e juventude. Nenhum pai, nenhuma mãe, cobra por criar os filhos. O carinho dos avós: não tem preço que pague! O afeto dos tios, primos, sobrinhos. A amizade dos vizinhos, colegas de trabalho, de esporte... Ninguém nos cobra nada. É de graça.

Da sociedade também recebemos muito. Herdamos a cultura, a ciência, a tecnologia, os bens civilizacionais que as gerações anteriores produziram e nos legaram e nós utilizamos sem ter que pagar por isso. Ainda bem que não precisamos pagar pelo uso do alfabeto que os fenícios fizeram dois milênios antes de Cristo!

Mas, a grande fonte de graça, sem dúvida, é Deus. Toda a criação, o Planeta Terra, a própria humanidade, cada um de nós em particular, somos frutos da graça de Deus. Ele nos criou sem exigir nada em troca. Em seu amor, apenas nos pede que, assim como tanto dele recebemos, sejamos generosos, pois tudo o que temos, não é mérito nosso, mas dom a ser repartido entre todos.

Jesus apresenta este princípio numa fala desconcertante. É a parábola do homem que contratou trabalhadores em diversos horários do dia e, no final, diferente do que esperavam, fez igual pagamento a todos, independente do tempo trabalhado por cada um. Quem iniciou às cinco da manhã recebeu a mesma remuneração dos que começaram ao meio dia ou às seis da tarde.

As pessoas que ouviam Jesus ficaram de boca aberta. Percebiam que ele tinha razão. Mas não podiam aceitar tal argumento. Ele corroia a lógica da meritocracia, ou seja, de que cada um deve ser recompensado pela capacidade e contribuição individual. Essa não é a economia de Jesus. A economia de Jesus é a da graça, ou seja, de que tudo provém de Deus e deve ser repartido entre todos conforme a sua necessidade. E quem necessita mais, deve estar em primeiro lugar nas preocupações de todos. E Jesus vai ainda mais longe ao afirmar que os últimos devem ser os primeiros e os primeiros, ficar por último.

Como aplicar esse princípio cristão numa sociedade complexa como a nossa? Mais simples do que se imagina! Já tem nome e experiências consolidadas. É a Renda Básica de Cidadania. Cada pessoa, independente da condição social, recebe os recursos necessários para suprir suas necessidades fundamentais e assim poder contribuir com toda a liberdade para com a sociedade. Muitos não acreditam nesta proposta. Não é de estranhar. Afinal, como o profeta diz, os pensamentos de Deus estão muito longe dos pensamentos humanos e os pensamentos dos homens, muitas vezes, longe dos pensamentos de Deus. Tão longe quanto a distância entre o céu e a terra!

Mas, para quem acredita na graça de Deus, não custa sonhar. Sonhar como Jesus sonhou: com uma sociedade em que cada um contribuía com as suas possibilidades e receba, de graça, conforme suas necessidades. Essa é a economia da graça, a economia de Deus.

Sobre o autor

Vanildo Luiz Zugno

Frade Menor Capuchinho na Província do Rio Grande do Sul. Graduado em Filosofia (UCPEL - Pelotas), Mestre (Université Catholique de Lyon) e Doutor em Teologia (Faculdades EST - São Leopoldo). Professor na ESTEF - Escola Superior de Teologia e Espiritualidade Franciscana (Porto Alegre)."

 

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